Quando falei pela primeira vez sobre Arsène Lupin, personagem de Maurice Leblanc, falei também sobre sua semelhança com Sherlock Holmes, criado por Arthur Conan Doyle. Os dois possuem características muito parecidas, mas estão em lados opostos da lei: Lupin é ladrão; Holmes, detetive.

Não seria interessante um embate entre eles? De fato, Leblanc chegou a criá-lo, mas isso não agradou em nada a Conan Doyle, que recorreu à Justiça para que a estória não fosse publicada. Nasceu, então, o detetive Herlock Sholmes, uma paródia do famoso investigador inglês e que aparece em três estórias. Uma delas é Arsène Lupin contra Herlock Sholmes, a versão revista da que Conan Doyle tentou impedir de ser publicada.

Essa obra possui duas partes, “A Mulher Loura” e “A lâmpada judaica”. Na primeira, dividida em seis capítulos, o professor Gerbois vê uma escrivaninha numa loja de antiguidades e decide levá-la para sua filha. Quando a compra é fechada, surge um rapaz, interessado no mesmo móvel. O vendedor explica que já fora vendido, mas ele não desiste e oferece a Gerbois o triplo do que havia pagado pela escrivaninha. O professor se nega a vender, e o presente alegra muito a sua filha. Mas, no dia seguinte, um grande susto. O móvel desaparecera, sem deixar rastros e contendo algo que poderia mudar a vida dessa família para sempre.

Ao fim do primeiro capítulo, a impressão que tive era de que o que se contaria a seguir seria independente. Mas não. Logo se mostra a relação entre os casos relatados: a participação de Lupin e da Mulher Loura. Então, Herlock Sholmes e seu fiel companheiro Wilson são chamados para ajudar a polícia francesa a prender os ladrões, após várias tentativas fracassadas por parte dos agentes locais.

Na segunda parte sim se conta uma estória independente, que se passa algum tempo depois dos eventos narrados em “A Mulher Loura”. Não é obrigatório ler as partes na ordem, é possível entender a segunda sem a leitura da primeira, mas alguns fios podem ficar soltos, devido às referências feitas.

“A lâmpada judaica” é mais curta, dividida em dois capítulos. Sholmes e Wilson estão em Londres quando recebem duas cartas, entregues juntas: a primeira, do Barão d’Imblevalle, pedindo ao detetive que vá a Paris para solucionar o caso de um roubo de que fora vítima; a segunda, de Lupin, aconselhando-o a não aceitar o caso, pois acabará humilhado.

Nesses embates, quem levará a melhor?

 

Referência:

LEBLANC, Maurice. Arsène Lupin contra Herlock Sholmes. Tradução de André Telles e Rodrigo Lacerda. 1ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2017. 312p. (Clássicos Zahar; Bolso de luxo)