Por Tisa de Oliveira
As plantas são usadas há muito tempo por nossos antepassados e têm um papel importante na cura e tratamento de doenças. Para os povos e comunidades de áreas de conservação, como indígenas e quilombolas, elas têm um significado especial e um valor maior ainda. Representam conhecimento acumulado, passado de geração em geração, e são a única maneira de tratar as enfermidades que surgem nestes grupos.
Como forma de resgatar, valorizar e divulgar a identidade destes povos e também de tornar sustentável a sabedoria das ervas, o Geoparque Caçapava, com apoio da Prefeitura, está desenvolvendo o projeto de extensão “A etnobotânica no quintal do Quilombo Picada das Vassouras”, coordenado pela professora e pesquisadora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Suzane Bevilacqua Marcuzzo, na Picada das Vassouras e em Quebra Canga.
Segundo a professora Suzane, que trabalha com uma bolsista e outra aluna que auxiliam no levantamento de campo, a proposta é explorar o conhecimento tradicional que os quilombolas têm em relação às plantas. Uma das características mais marcantes dos quilombos é justamente a etnobotânica, ou seja, o estudo entre o homem e as plantas e a maneira como ele as utiliza como recurso.
“Queremos ver se o quilombo de Caçapava tem essa característica. Inicialmente, o projeto era fazer um diagnóstico da etnobotânica no quilombo. Fizemos uma pesquisa de campo dentro da comunidade, neste caso, utilizamos uma amostragem de 30 famílias, com entrevistas semiestruturadas e metodologia walking the woods (caminhando na floresta). Aplicamos a metodologia caminhando no quilombo, onde vamos conversando e vendo o que eles têm de conhecimentos sobre as plantas. Toda propriedade tem seu quintal de plantas medicinais e, sim, existe esse conhecimento tradicional passado de geração para geração”, relata Suzane.
De acordo com o levantamento feito, os quilombolas cultivam carqueja branca, indicada para dor de estômago; cabelinho de porco, usado para tratar a bexiga; araticum como tratamento para pressão alta; casca de açoita cavalo para a cura da gripe; e camomila para dores de estômago nos bebês.
As pesquisadoras observaram, até agora, que o quilombo Picada das Vassouras não tem um traço identitário muito forte enquanto quilombolas. Por isso, o foco é mostrar para esta comunidade o valor que eles têm sobre este conhecimento tradicional, que apenas eles detêm e precisa ser passado de geração em geração.
“Este conhecimento é a base para trabalharmos o pertencimento e a valorização da identidade quilombola dentro da Picada das Vassouras e Quebra Canga. A ideia é que, por meio da etnobotânica, da valorização do conhecimento em relação às plantas, eles vejam possibilidades de geração de renda. Como um turismo de base comunitária, rota turística para conhecer o quilombo e talvez produção de mudas. Se alcançarmos isso, estaremos fortalecendo a identidade quilombola no local”, destaca a pesquisadora.
Fotos: Divulgação