O que não pode faltar nestes momentos e sempre é a vontade de viver, de superar as dificuldades, de colaborar com a paz das famílias e vizinhanças
O caso daquele aposentado que perdeu nas enchentes tudo o que construíra na vida: casa, família, bens, documentos, e vagava pelos escombros, sem um ponto de referência, abalou profundamente os telespectadores. Um bondoso samaritano – agora chamado de voluntário – levou-o de canoa a um abrigo.
E uma cena cinematográfica aconteceu. Eis que o senhor vê numa das margens o seu cão amigo, que também o reconhece. Abraços e beijos, como se ambos fossem humanos. Pois o cão também chorava de emoção.
Episódios tocantes como esses foram muitos, no resgate às vítimas das inundações. Muitas delas desesperadas e sem esperanças de um recomeço. Outras, no entanto, agradecendo a Deus e aos socorristas pela vida preservada. E com ânimo de recomeçar do ponto zero.
Têm sido louváveis os gestos de solidariedade de pessoas que se arriscam nos salvamentos, encaminham os sobreviventes para abrigos seguros, providenciam-lhes agasalhos e alimentos, bem como cuidados com a saúde fragilizada e agora ameaçada pelas doenças próprias da poluição das águas e dos detritos acumulados.
Geralmente os flagelados que se salvam perdem até os documentos pessoais. Mas nos acampamentos que se aprimoram a cada dia, esse cuidado está sendo providenciado. Minha nora, que é advogada, atende nesse setor, orientando e ajudando a encaminhar os papéis necessários para uma nova documentação. Até certidões de nascimento precisam ser refeitas, para o começo dos trâmites legais.
E assim, fazendo o que lhe compete por profissão ou vocação, a corrente do Bem está se expandindo e cobrindo todo o Rio Grande em gestos de solidariedade e socorro.
Mas a vida, que já está mudando vertiginosamente em nosso mundo, mais será diferente para os atingidos pelas cheias. Mudar de casa, de bairro, de vizinhança, de escola, de Paróquias… Não vai ser fácil. E aquelas residências em áreas de risco terão de transferir-se para outros locais que a Administração Pública terá de providenciar.
Imagino a papelada nos Cartórios de Imóveis, a demarcação dos terrenos, os desacertos nas aceitações dos interessados!
O que não pode faltar nestes momentos e sempre é a vontade de viver, de superar as dificuldades, de colaborar com a paz das famílias e vizinhanças. E com toda a coragem para recomeçar.
Pois os milagres só acontecem para aqueles que não perderam a fé.