Por João Alberto Dias Santos

Se a Revolução de 1893 ficou conhecida como a da degola, a de 1923 bem poderia ser a da imagem. Basicamente fotografia, processo já consolidado e com grande número de profissionais produzindo material de qualidade. E, como grande novidade, a estreia das “revoluções a pata de cavalo” na tela grande. Em outubro de 1923, ainda em meio ao conflito, era exibido em várias capitais do país o documentário A Revolução no Rio Grande, de  Benjamin Camozato (1885-1964).  Poucos dias  após o acordo de paz,  aparecia em Porto Alegre a primeira edição do Álbum dos Bandoleiros, sucesso editorial que, com 252 fotos distribuídas por 70 páginas, mostrava os rebeldes maragatos como “heroes de 23”, com textos mínimos e linguagem que fica a meio caminho entre coluna social e as atuais redes do universo virtual.

A revolução na tela grande

Nascido em Porto Alegre e com história de vida ligada a Cachoeira do Sul, Benjamin Camozato foi um “sete ofícios”. Dentista de profissão, navegou por vários fazeres e virou cineasta meio por acaso, em meio à guerra civil de 1923. Percorreu o Estado registrando cenas de acampamentos e movimentos de tropas dos dois lados, e transformou em documentário de 60 minutos, que foi exibido em Porto Alegre (Cine Coliseu, dia 21 de dezembro), uma semana após o fim do conflito. Quatro dias antes, havia sido exibido em Pelotas, cidade que ainda vivia o impacto da recente ocupação (29 de outubro) pela coluna rebelde de Zeca Netto.

“Heroes de 23”

Bandoleiros era a designação ofensiva e depreciativa que os oficialistas (defensores de Borges de Medeiros) usavam sempre que se referiam aos opositores em armas (apoiadores de Joaquim Francisco Assis Brasil). O apelido foi adotado pelos “ofendidos” e virou peça de propaganda. O melhor – e mais bem sucedido – exemplo foi o Álbum dos Bandoleiros, publicado por simpatizantes dos assisistas/maragatos no inicio de janeiro de 1924, poucos dias após o pacto que encerrou a guerra civil. Imediato sucesso de público. Um álbum de imagens dos que combateram, com mínimos (e cheios de adjetivos) textos-legenda. Em abril do mesmo ano, veio uma nova edição. Corrigida e ampliada, na definição dos editores, para 96 páginas e 337 fotos. E com tiragem de 20 mil exemplares – uma marca e tanto para a época.

Para saber mais: Mesa redonda sobre a Revolução de 23 – MEMÓRIAS, NARRATIVAS E IMAGINÁRIO. Amanhã, às 18 horas, na Casa de Cultura Juarez Teixeira (CCJT). O encontro é uma realização da CCJT e do Projeto Doble Chapa, com apoio institucional da Unipampa – Campus Caçapava e Campus Bagé, Geoparque Caçapava Aspirante Unesco e Secretaria Municipal de Cultura e Turismo/Prefeitura de Caçapava do Sul. Entrada gratuita.

Imagens: Divulgação