Nordeste do Brasil, por volta de 1950. É nesse contexto que se passa Sargento Getúlio, de João Ubaldo Ribeiro. Clássico do romance regional brasileiro, a obra é narrada em primeira pessoa, com um discurso cheio de preconceitos, por nosso protagonista, que está levando um preso de Paulo Afonso, na Bahia, para Barra dos Coqueiros, em Sergipe.

A distância é longa e difícil de percorrer, mas o trajeto já é conhecido de sargento Getúlio, pois ele já o fez outras vezes, com outros presos. Alguns não aguentaram e morreram pelo caminho, que logo o leitor também conhecerá bem, pois o narrador utiliza o primeiro capítulo para explicar detalhadamente como é a estrada por onde passará.

Além do preso, um “comunista udenista” – como define Getúlio – que havia fugido para se esconder em Paulo Afonso, há mais uma pessoa acompanhando o sargento: Amaro, o motorista do “hudso” que os transporta. Enquanto percorrem o caminho, o protagonista vai contando aos companheiros de viagem sobre outras ‘missões’ das quais já participou. Todas barbáries sanguinolentas, cheias de violência; algumas sob ordens superiores, outras por puro apoio ao Chefe.

Getúlio já está cansado da vida que leva, e pretende que essa seja sua última viagem. Depois, quer aposentadoria e uma vida nova, e não vê a hora de isso acontecer. Mas uma reviravolta política põe seus planos em modo de espera, enquanto ele e Amaro têm de aguardar em uma fazenda novas ordens sobre o que fazer com o preso – que, se dependesse deles, já estaria morto há muito tempo.

O livro é pequeno, mas a leitura tem de ser feita com calma. Em parágrafos longos, o texto é redigido da maneira como Getúlio fala – como o “hudso” citado no terceiro parágrafo. Essa é uma forma de o autor ajudar o leitor a entender o personagem como pretendido. Por isso, é preciso ter bastante atenção e, às vezes, reler algumas palavras até em voz alta para melhor compreendê-las.

 

Referência:

RIBEIRO, João Ubaldo. Sargento Getúlio. 5ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. 175p.