Quando alguém chega e diz: “como passa ligeiro o tempo!”, confesso que devo concordar, pois a impressão que tenho é a mesma. O tempo passa cada vez mais depressa, e a gente fica com a impressão de que não conseguimos mais dar conta de todos os afazeres e compromissos. Estamos tão envolvidos com tantas coisas que o tempo parece escapar de nossas mãos.
Olhando para trinta, quarenta anos atrás, parecia que o tempo não passava tão depressa. Morando no interior, arando a terra, semeando as sementes, acompanhando o tempo da natureza, ficando feliz com o germinar das sementes e, finalmente, com as colheitas que garantiam nossa segurança e soberania alimentar, bate até a saudade. Aquela família grande, de oito irmãos sentados à mesa nas refeições, esperando a ordem do pai e da mãe para dar conta da lida da roça. Não tínhamos televisão nem celular, muito menos um automóvel! Quanta alegria quando íamos visitar os avós maternos de carroça puxada pela junta de bois. A previsão do tempo era garantida quando a correição andava depressa e aqueles rabos de galo apareciam nas nuvens do lado norte.
Quando lembro aqueles tempos, em que valorizávamos a roupa do irmão mais velho, que automaticamente passava para o mais novo, e se ficava feliz com o primeiro sapato que ganhávamos por ocasião da primeira comunhão, sempre bem maior que o tamanho do pé, fico pensando por que as gerações de hoje têm tudo o que precisam – e, às vezes, até o que não precisam – e parecem ainda descontentes! Tem muitos filhos de hoje que fazem verdadeiros escândalos se o tênis não for daquela marca ou a mochila daquele super-herói! Pobres pais, que acabam cedendo aos caprichos da geração exigente e ainda não contente.
Escrevo hoje sobre isso para lembrar e valorizar os sacrifícios dos nossos avós e pais que, com muita dificuldade, mas com muito amor, nos ensinaram valores que carregamos até hoje. Valorizar as pequenas coisas. Minha mãe (in memoriam), sempre dizia: “Quem não valoriza as pequenas coisas não merece as grandes!”
Ah! Já ia me esquecendo de lembrar dos dias de carneação, quando os vizinhos mais próximos eram contemplados com um baita pedaço de carne. E aqueles mutirões que aconteciam quando algum pai de família adoecia! Ah! Já ia esquecendo! A oração do terço em família. Quanta fé e gratidão a Deus. Dava tempo de contemplar as estrelas e as noites de lua cheia, apesar do cansaço da lida. Sempre é bom fazer memória das vivências para dar valor à vida, que parece passar tão depressa. Recordar o passado faz com que a gente não negue as origens. Saudades!