Pois não é mesmo? Pois foi, às veras. Em muitas ocasiões, recordo de certos acontecimentos passados, de antanho, que me voltam à mente rotineiramente, e que não os relato para vocês com medo de me tornar enfadonho, ou exibido, ou chato, com esses papos de gente idosa choramingando os “no meu tempo”. Hoje, vou sair da humildade e vou contar alguns “causos” desses do tempo antigo.
- Quando eu morava na pensão da Dona Maria Antônia, ali nos fundos do Hospital, num quarto dos fundos, ao lado da carpeta, o último do corredor, à esquerda, com uma janela para a parede da garagem do ônibus da Empresa Santana, do Mozarte, eu possuía duas calças compridas e um par de sapatos pretos comprados na Camisaria Leal ou alguma loja vizinha dela, ali por perto do Café do Luizinho. Lembro que uma delas era, originariamente, azul, costurada pela minha mãe em uma máquina Crosley, de pedal, mas que de tanto ser lavada já era quase branca. Pois num sábado de tarde, tirei a outra, que era do uniforme do Estadual, tomei um banho caprichado sem xampu, que eu não usava, lavava os cabelos com sabonete, e vesti a minha “linda” calça limpa. Na esquina do Hospital, quando a Coriolano não era calçada, havia uma enorme poça d’água e eu, distraído, mosqueando na esquina, na calçada, não vi uma Kombi branca, que invadiu a poça de lama e deixou a minha calça marrom de tanto barro. Tive de voltar para o meu quarto e revestir a calça suja.
- Houve um festival interno no Estadual, no tempo em que o Professor Elói Rorato era o diretor, naquele ginásio antigo, onde jogavam basquete, que havia ao lado do atual ginásio coberto. Lembro que cantei uma música gaúcha do Cerejinha, acompanhado pelo saudoso Luiz Carlo Leão Dias, e o diretor, que era professor de francês, cantou lá uma canção naquele idioma, sendo muito aplaudido pelo ineditismo da sua participação. Vendo que eu não venceria, pelos aplausos recebidos, antes de anunciarem o veredito, declarei ao microfone que desistiria de qualquer premiação em favor do Sr. Diretor. Ato imediato, o professor anunciou também que ele não estava concorrendo, porque o festival era dos alunos. Com essa manobra política e pouco ética, acabei sendo vencedor do tal embate.
- Quando completei uns 16 anos e vivia jogando bola nos campinhos que existiam na cidade, querendo ser goleiro com 1,67m, fui aconselhado em casa a entrar para o corpo de danças dos Carreteiros da Saudade, que era um grupo folclórico sediado no Estadual, composto por alunos e alguns professores. Tentei ingressar, mas fui informado que, primeiramente, teria de aprender a dançar, e que demandaria algum tempo para ficar em condições de participar das apresentações do grupo. Sobrou-me, então, a missão de carregar o pau-de-fitas toda vez que houvesse apresentações oficiais externas. Foi assim, com o pequeno mastro no ombro, que adentrei ao salão do antigo Galpão das Éguas, do Sr. João Francisco da Silveira, ali perto da CEEE, onde ele tratava de seus parelheiros na estrebaria, para estrear como membro do grupo de danças gaúchas dos Carreteiros, no qual militei por três lindos anos da minha juventude. Só não aprendi a dançar chula porque as minhas botas, emprestadas pelo meu pai (nº 43), eram três números maiores do que o meu pé.