A semana passada, especialmente os dias 14 e 15, foi Santa (ou somente a sexta? Já nem sei mais), e domingo, 17, foi Páscoa. Pesquisando um pouco sobre essas comemorações, descobri que esta semana é a ocasião de celebrar a paixão de Cristo, sua morte e crucificação, e que foi um Papa de nome Silvestre I, que governou a Igreja Católica Romana entre os anos 314 e 355, que tornou oficial essa celebração cristã.

Foi por essa época que o imperador romano Constantino decretou que a religião católica seria a religião oficial do grande império dominador naquele tempo. Sua primeira celebração cristã teria ocorrido somente no ano de 1682. Foi uma daquelas leis que custaram a pegar, esperando regulamentação, imagino.

Fiquei sabendo, também, que “paixão de Cristo” é o último ciclo da vida de Jesus, no período entre a última ceia e a sua morte na cruz. O termo “paixão” vem do latim passio que significa “sofrimento”.

Lembrei ainda dos tempos que eu era guri na campanha, e a Semana Santa era um acontecimento quase lúgubre, triste mesmo: não se podia varrer a casa, nem se montava a cavalo ou tirava leite das vacas; não se podia tocar gaita; havia uma reza diária, com toda a família reunida no quarto da minha mãe, com extrema seriedade; e, por muitas vezes, eram comentados e explicados os significados dos mistérios do terço (gozosos, gloriosos, dolorosos e luminosos). E o que era o pior: não se podia comer carne nem de galinha, que era mais branca.

Mas o Sábado de Aleluia sempre chegava com churrasco, compensando o sacrifício daqueles três dias de quase luto, pois, naquele tempo, ela começava na quarta-feira.

Quando criança, eu tinha muita pena dos sofrimentos imaginários que Jesus passara, e odiava os romanos pela falta de humanidade para com o injustiçado prisioneiro, que era uma pessoa de origem humilde e que só queria pregar a vinda da salvação definitiva para toda humanidade.

Lembro de uma certa feita, durante uma Semana Santa, quando fomos pescar na quarta de tardezinha, no arroio perto lá de casa, para tentar pegar algum peixe para o almoço de quinta, já que haviam comprado apenas duas latas de “pescada” para aqueles três dias especiais. Ficamos por lá até anoitecer e pouco pescamos: uns poucos jundiazinhos e algumas traíras ditas, sovelas ou suvelas.

Andávamos a pé e, quando já chegávamos em casa, os cachorros, que eram pagãos e nada sabiam sobre tais crenças religiosas, entocaram um tatu. Houve uma grande discussão filosófica/religiosa entre o meu pai e o professor Joaquim Almeida, o maior contador de causos que conheço, que nos acompanhava naquela aventura pitoresca.

Depois de muita confabulação, decidiram que o bicho não poderia ser abatido naquele dia, porque era Dia Santo. Seria um pecado imperdoável para todos nós e não deveríamos brincar com força divina. Mas que tampar a boca da toca com pedaços de madeira e deixá-lo ali aprisionado até sábado bem cedo era possível, e assim foi feito.

Esqueceram de combinar com o cascudo, que era bicho irracional, mas não era bobo. Sábado bem cedinho, perdemos a viagem, pois o dito cujo se mandou a la cria por alguma ramificação desconhecida da toca onde se enfiara ante o ganiço e os dentes da cachorrada.

Se fosse hoje, do jeito que as coisas evoluem, aquele tatu teria acabado na panela, mesmo que fosse Sexta-feira Santa.