Em 2018, estava reprisando a primeira versão da novela “Sinhá-Moça”. Um dia, pesquisando sobre ela, descobri que era baseada em um livro homônimo, de Maria Dezonne Pacheco Fernandes. Como sempre ocorre em casos assim, fui pesquisar sobre o livro. Consegui um exemplar e fiquei muito surpresa ao perceber que as estórias não têm nada a ver uma com a outra.

A grande diferença, pra mim, está na questão da escravidão. A novela aborda esse tema muito mais. Porém isso não significa que as críticas no livro não sejam fortes – pelo menos tanto quanto se podia ser quando foi escrito, em 1950. Ele traz um retrato doloroso da realidade dos escravos, apesar de esse não ser o seu foco.

Mas devo fazer uma crítica sobre a narrativa: ela é um pouco confusa. Não se sabe exatamente se transcorreram dias ou algumas horas. Em muitas passagens, mesmo estando explícito que eram dias diferentes, fiquei com uma sensação estranha, pois, às vezes, mal se falava do amanhecer e já era noite.

Ambientada no Brasil escravocrata, a estória começa por volta de 1880 e vai até 1888, ano em que foi assinada a Lei Áurea. O livro conta parte da vida da protagonista, chamada apenas de Sinhá-Moça (na novela, a personagem tem um nome: Maria das Graças). Ela é filha do Coronel Ferreira, um senhor de escravos extremamente prepotente e racista – muito pior que o Barão da novela –, e de D. Cândida, uma pessoa submissa e que acredita que todas as mulheres devem ser assim.

Sinhá-Moça não tem nada a ver com o pai – com a mãe, tenho minhas dúvidas –, é uma jovem abolicionista e se preocupa com o bem-estar dos escravos, que gostam dela. Em um baile, reencontra Rodolfo, um advogado com quem a mãe sonha casá-la. Assim como Sinhá-Moça, Rodolfo é abolicionista, e é por isso que eles começam a se aproximar e a se apaixonar. Mas o que pode impedir esse relacionamento é justamente a revolta dos escravos, que não estão dispostos a aturar por mais tempo as maldades que sofrem.

 

Referência:

FERNANDES, Maria Dezonne Pacheco. Sinhá-Moça. Prefácio de Afonso Schmidt. 9ed. São Paulo: Editora Nacional, 1986. 240p.