Sofrimento virtual

Pois me parei de pensador e fiquei convencido que é mesmo verdade. Na maioria das vezes em que enfrentamos inseguranças existenciais é pura imaginação da gente mesmo

Li, há pouco tempo, uma escrita que dizia que a gente sofre mais pelo imaginário do que pela realidade acontecida.

Pois, me parei de pensador, e fiquei convencido que é mesmo verdade. Na maioria das vezes em que enfrentamos inseguranças existenciais, é pura imaginação da gente mesmo. Por exemplo: será que o sem vergonha aquele vai saldar a dívida que tem para comigo, por haver lhe emprestado uns trocados, numa hora de aperto quando não tive coragem e cara de pau para inventar uma desculpa para negar-lhe o pedido? Depois, o honesto do homem nos paga e acaba-se a preocupação que nos levou tantas noites de sono.

Diante de qualquer situação, as mais diversas, ficamos encucados com o desfecho, imaginando tudo que é azaração e possibilidade de nada dar certo.

Quantas eleições, inclusive a que venci, me deixaram preocupado com o seus resultados. Quantas viagens planejadas para lugares desconhecidos nos trouxeram a preocupação da incerteza da realização?

As vezes nem era preciso matutar tanto a respeito daquilo que não sabemos que vai acontecer. Uma doença em pessoa da família, o resultado de um diagnóstico, a recuperação de uma cirurgia, o resultado de um exame vestibular, uma entrevista de emprego, a véspera de uma prova decisiva para a qual estudamos demais e sempre avaliamos que não aprendemos nada.

Quando a gente vira aposentado, as coisas da vida, os afazeres fora da rotina, nos enchem a cabeça de caraminholas. E, quando já navegamos pelos mares da terceira idade, então, as desconfianças nos acompanham, parecendo um bichinho carpinteiro ou um diabinho atazanador das ideias, avisando que poderemos ficar doentes de repente e que é preciso ficar de butuca para qualquer dorzinha diferente: cuidado com a diabete, com o colesterol, com a pressão alta, com o reumatismo, com a obesidade, com a próstata etc e tal.

Têm também os velhinhos que começam a esquecer o nome dos conhecidos, a data do aniversário dos netos, da própria mulher, da data do casamento. Começa a dar preocupação quando vai rever um amigo do peito das antigas e não lembra mais onde ele mora, se ainda está casado, se já viuvou e até da época em que foram colegas de serviço.

Já diziam os antigos “que aquilo que não tem solução, solucionado está”. Pois não é que é verdade mesmo! Afinal, cuca fresca e caldo de galinha não fazem mal pra ninguém. Talvez seja por isso que os ”calaveras” morrem de velhos e não aprendem a se preocupar.