Soltaram as bruxas

Para nós, que amamos a paz e nos criamos num lar de amor e carinho, é difícil entender por que os jovens de agora se aliam a neonazistas, a terroristas como o Hamas e outros – e se preparam para odiar e matar

Adoro as visitas de meus filhos e sobrinhos, jovens bem informados – e bem intencionados – a respeito de tudo o que está acontecendo de diferente neste mundo. Com eles, ponho-me a par das suas opiniões e das novas tendências que ameaçam romper o equilíbrio da gangorra a que já estávamos acostumados.

Na última visita do Guilherme, neto querido da mana Maria Augusta, agora meu neto por adoção – sou sua avó estepe –, tivemos ocasião de por nossas conversas em dia. E eu confirmei, através de suas observações e análises do que se passa no mundo atual, que estou no caminho certo nas minhas ideias sobre suas causas e consequências. E chegamos às mesmas conclusões: não podemos voltar atrás. O remédio é capacitar nossos dons de adaptação e, principalmente, não perder o foco, isto é, o sentido da vida.

Num olhar sobre nossas comunidades mais próximas, deu para notar como os casos de autismo em crianças e de Alzheimer nos adultos estão aumentando! São males desconhecidos até o século passado. Onde buscar as causas?

As guerras, os fanatismos religiosos, políticos e de etnias – entre os países orientais e as intervenções do Ocidente – passam dos limites do respeito à pessoa, destroem famílias e seus lares, roubam a infância de crianças traumatizadas física, moral e espiritualmente. Em filas intermináveis, elas ficam aguardando transportes que as levem para longe de sua terra, de seus lares, escolas, amizades, para um destino desconhecido que as acolha.

“Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay”. Parece que soltaram as bruxas.

Para nós, que amamos a paz e nos criamos num lar de amor e carinho, é difícil entender por que os jovens de agora se aliam a neonazistas, a terroristas como o Hamas e outros – e se preparam para odiar e matar, atacando escolas, mesquitas, igrejas, hospitais, ceifando vidas de inocentes que não lhes fizeram nenhum mal.

Mas as benditas visitas de filhos, sobrinhos e do Guilherme acabam sempre assim: mostramo-nos fotos em celulares, das crianças novas da família. E rimos de suas gracinhas e espertezas. Do fundo de nossos corações, ficamos a desejar-lhes um futuro de paz, amor e reconstrução daquilo que foi perdido e é parte nossa: a dignidade humana, o respeito à vida e aos outros que nos são próximos. E mais música, mais literatura, mais artes, porque não somos só matéria. Nosso espírito pede mais. E paz, muita paz.