Foto: Alina Souza
Em assembleia realizada na Praça da Alfândega, em Porto Alegre, os trabalhadores dos Correios no Rio Grande Sul decidiram, na noite desta segunda-feira (17), decretar greve por tempo indeterminado. Em todo o país, são cerca de 100 mil funcionários que irão paralisar as atividades.
A greve ocorre em protesto contra a retirada de direitos, a privatização da empresa e a ausência de medidas para proteger os empregados durante a pandemia do coronavírus, de acordo com a Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas dos Correios e Similares (Fentect).
Dos 36 sindicatos no país, apenas três ainda não deliberarem sobre a greve. As duas entidades que ficam no RS já decidiram pela paralisação — o Sindicato dos Trabalhadores de Correios do RS (Sintec-RS) e o sindicato de Santa Maria e região.
De acordo com o secretário-geral do Sintect-RS, Alexandre dos Santos Nunes, o movimento é a única resposta possível a proposta da empresa que retira 70 cláusulas do acordo coletivo dos trabalhadores.
“Tudo que conquistamos ao longo de 30 anos está sendo retirado. Isso demonstra um total desprezo pelo que representa o trabalhador de Correios para o Brasil, que mesmo frente a uma pandemia, continua nas ruas, de porta em porta, atendendo a população” ponderou ele.
Nunes acredita que a decretação de greve em nível nacional representa a indignação dos trabalhadores com a empresa, que, segundo ele, não se preocupa em proteger os funcionários do coronavírus — nem os testa para a doença —, impõe ainda sobrecarga de trabalho e exige expedientes aos sábados e domingos.
“Não vamos aceitar um ataque com esta dimensão. As representações dos trabalhadores pediram várias vezes para que a negociação não fosse feita neste momento, mas a empresa está exatamente aproveitando a pandemia para “passar a boiada” nos direitos da categoria. E a nossa resposta é a greve” acrescentou ele.
Revogação de acordo coletivo
Em nota, a Fentect afirma ter sido surpreendida com a revogação, a partir de 1º de agosto, do atual acordo coletivo, cuja vigência vai até 2021. Segundo a entidade, 70 cláusulas com direitos foram retiradas, como 30% do adicional de risco, vale-alimentação, licença-maternidade de 180 dias, auxílio-creche, indenização por morte e auxílio para filhos com necessidades especiais, além de pagamentos como adicional noturno e horas extras.
Sobre as ações da empresa para enfrentamento da pandemia, a federação relata que teve de acionar a Justiça para garantir aos empregados equipamentos de proteção individual, álcool em gel, testagem e afastamento daqueles integrantes de grupos de risco e dos que coabitam com crianças em idade escolar. A entidade afirma que se trata de estratégia para precarizar e privatizar a empresa.
“O governo Bolsonaro busca a qualquer custo vender um dos grandes patrimônios dos brasileiros, os Correios. Somos responsáveis por um dos serviços essenciais do país, que conta com lucro comprovado, e com áreas como atendimento ao e-commerce, que cresce vertiginosamente e funciona como importante meio para alavancar a economia”, disse o secretário-geral da Fentect, José Rivaldo da Silva.
Em nota, os Correios informaram ter um plano de continuidade de negócios para manter o atendimento à população em qualquer situação adversa. A estatal informou que o objetivo primordial é cuidar da sustentabilidade financeira da empresa, de forma a retomar a capacidade de investimento e sua estabilidade, e manter os empregos dos funcionários.
Informações: Gaúcha ZH