“O problema não é ser diferente, na verdade, a questão toda está na cabeça fechada de algumas pessoas. Desde quando ser diferente é ruim?” (LUND, 2012, p. 12)
Em 2013, um amigo me convidou para acompanhá-lo à sessão de autógrafos do primeiro romance de uma escritora pelotense que ele conhecia. Ela era Ju Lund, e o livro, Doce vampira, primeiro volume de uma trilogia que inclui, também, Alma vampira e Vida vampira (estes lançados apenas em formato digital). Saí da livraria com meu exemplar e, pouco tempo depois, comecei a leitura. Agora, passados 10 anos, me animei a ler esse livro outra vez. Lembro que foi uma das melhores obras que li na época, mas me causou um grande mal-estar. Porém, não posso falar muito sobre isso, pois está relacionado com o final. O que posso dizer é que mexeu demais comigo, porque o que acontece a uma personagem é muito cruel. E o pior é que, se analisarmos tudo que sofrem pessoas LGBTQIA+, é possível pensar que, se aquilo fosse realmente uma opção, muitos tomariam atitudes assim para tornar essas pessoas exatamente como esperam que sejam, sem se importar com sua felicidade. Mas enfim, vamos à obra. Doce vampira começa a despertar a curiosidade do leitor já no prólogo, em que uma personagem se mostra em perigo, sendo acuada pela mãe, um psiquiatra e homens que, possivelmente, são enfermeiros. A trama, protagonizada pela humana Duda e pela vampira Ester, se passa num Brasil não tão longe do real, principalmente Alma vampira e Vida vampira. Humanos e vampiros convivem em paz, apesar de uma parcela da sociedade ainda ter muito preconceito. Quando os pais de Duda descobrem que ela está apaixonada por Ester, têm uma reação horrível. A mãe crê que a menina fora enfeitiçada; o pai, por acreditar se tratar de uma doença e que a filha precisa ser curada, a leva a um psiquiatra, que a enche de remédios. Os amigos deixam de falar com ela, câmeras são instaladas para monitorar o entorno da casa, e até um guarda passa a fazer rondas na região à noite, para impedir que Ester a procure. Tudo isso acontece quando Duda ainda tem 17 anos. Seus pais se justificam para todos dizendo que ela é menor de idade e que eles é que sabem o que é melhor para a filha. Porém, seu aniversário de 18 anos se aproxima. Com a maioridade, ela estará livre para tomar as próprias decisões, e o que faz é fugir com Ester. Mas nada será fácil, afinal, perfeição não existe, e seus pais farão de tudo para retomar o controle. Porque tudo se resume a isso: poder controlar a filha para que seja como eles querem. Referência: LUND, Ju. Doce vampira. 1ed. Petrópolis: Ornitorrinco, 2012. 210p.“O preconceito machuca as pessoas e, muitas vezes, deixa cicatrizes que jamais são curadas. Marca pessoas e almas para sempre.” (LUND, 2012, p. 151)