Abril foi escolhido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Mês da Conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), uma condição de saúde cujas principais características são problemas de comunicação e comportamentos repetitivos, que podem se manifestar em diferentes níveis em cada pessoa.
Segundo a coordenadora de Educação Especial da Secretaria de Educação de Caçapava, Alice Huerta, geralmente os primeiros sinais de autismo são notados na educação infantil: a criança fica sozinha ou não brinca, se mantém isolada dos colegas, não tem uma linguagem bem estruturada ou uma comunicação que consiga compreender e ser compreendida.
– Se notamos estes sinais na escola, chamamos a família para conversar. É muito importante essa parceria entre a família e a escola. A família vai ser encaminhada para atendimentos multiprofissionais. Geralmente, começa com a fonoaudióloga para ver a questão da comunicação, se há algum atraso linguístico. Depois, com a psicóloga, o neuropediatra. A partir daí, vão se tendo as hipóteses descartadas ou não de um possível diagnóstico de espectro autista – explicou Alice.
Ainda de acordo com a coordenadora, Caçapava oferece educadores especiais para atender a esses alunos em todos os níveis e etapas nas escolas municipais.
Questionada sobre como o período pandêmico pode afetar aos autistas, Alice respondeu que este público foi um dos que mais sofreu com o isolamento social, pois os atendimentos que recebiam eram presenciais, e ficaram mais difíceis à distância. Além disso, há a questão da convivência social, que é muito importante para eles.
– Acredito que, quando voltar a educação de forma presencial, teremos que remediar muitas lacunas que vão ficar nessa questão do convívio social – avalia a coordenadora.
Segundo Alice, algumas atividades de terapia para crianças diagnosticadas com TEA em Caçapava são desenvolvidas em parceria com a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). Uma das profissionais que atua na Apae, a educadora especial Clarisse Dias Torres, diz que, na maioria das vezes, as mães são as primeiras a perceber que há algo diferente com seus filhos, mas muitas não aceitam ou não levam a sério.
– A própria família acaba dizendo “ah, mas fulano era assim também, teve um primo que demorou a falar, teve outro que demorou a caminhar, isso é normal”. Às vezes, vai se deixando e se acostumando com aquela situação – relata.
Também conforme Clarisse, como as crianças estão indo cada vez mais cedo para a escola, às vezes são os professores que percebem os sintomas e alertam aos pais para que busquem atendimento médico. De acordo com ela, os principais sinais que as crianças autistas apresentam são:
- evitar contato visual;
- se mostrar desinteressadas pela voz humana;
- não atender quando chamadas;
- parecer sempre distraídas;
- não seguir os pais pela casa;
- não demonstrar ansiedade na hora de separar-se dos pais;
- não se interessar por brincadeiras;
- ficar indiferentes a jogos e atividades em grupo;
- preferir ficarem sozinhas;
- apresentar algum movimento repetitivo, como bater palmas, mover a cabeça, balançar o tronco e mexer com as mãos;
- ter fascinação por luzes, sons ou movimentos;
- ser intolerantes a barulhos altos;
- ter dificuldade em lidar com mudanças na rotina, como trocas de móveis dentro de casa ou de trajetos;
- não apontar para aquilo que quer;
- não dar os braços para ir para o colo de alguém;
- não gostar de abraços ou de toque;
- não imitar;
- não usar os brinquedos com a função correta;
- ignorar outras crianças quando chegam perto;
- seletividade alimentar, que vai ser notada em crianças maiores.

Clarisse Torres, educadora especial que atua na Apae

Alice Huerta, coordenadora de Educação Especial do município
Poder público tenta auxílios
Em Caçapava, duas vereadoras, Jussarete Vargas (PDT) e Patrícia Castro (PL), estão engajadas em proporcionar atendimento médico adequado aos caçapavanos diagnosticados com TEA. Elas são motivadas por experiências pessoais, já que têm filhos autistas.
Jussarete é mãe de Kauana, 9 anos. Em seu mandato anterior, ela solicitou ao Governo do Estado um Centro de Autismo para Caçapava, e também a contratação de um neuropediatra para o município, mas, até o momento, nenhum desses pedidos foi atendido.
Uma das promessas de campanha de Patrícia Castro, mãe de Matias, 7 anos, foi a contratação de um neuropediatra, pois há uma fila extensa de crianças aguardando avaliação em Caçapava. Atualmente, elas são levadas para atendimento por um neurologista ou por um neurocirurgião em Santa Cruz do Sul.
– Na maioria das vezes, o problema é identificado na escola, que encaminha para fazer uma avaliação com um psicólogo ou com um pediatra, que encaminharão, através da Secretaria da Saúde, para um neuropediatra. Como no Rio Grande do Sul só existem quatro neuropediatras cadastrados pelo SUS, há muita dificuldade – explicou Patrícia, que mantém a esperança de conseguir um profissional que venha atender em Caçapava.

Vereadora Patrícia Castro e seu filho Matias

Vereadora Jussarete Vargas e sua filha Kauana
Crédito fotos: arquivo pessoal