Em uma pequena cidade interiorana no Sul do Brasil, fica a Casa de Dona Angélica Castilhos, viúva do Coronel Quineu Castilhos.
O casal vivia em um sobrado em frente à praça da cidade, onde alguns rapazes costumavam reunir-se para jogar sinuca, rapazes esses que seguiram frequentando a casa por algum tempo após a morte do Coronel, para fazer companhia a Dona Anja – como é conhecida a viúva – e, é claro, jogar. Algum tempo depois, chegaram à casa algumas meninas para trabalhar como empregadas, e outros rapazes começaram a ir ao sobrado para jogar e “namorá-las”. Assim surge o prostíbulo de Dona Anja.
Porém, com o tempo, ela foi empobrecendo, até chegar ao ponto de ter de vender o sobrado, que trocou por uma chácara, para onde foi em companhia das meninas e dos rapazes. Uma grande reforma no local elevou tanto o nível do estabelecimento que ele passou a ser chamado de “A Casa”, tamanho o respeito que adquiriu por ser “discreta e ordeira, pacata e limpa” (p. 32). Até as senhoras da cidade ficaram felizes por sua existência, já que representava a extinção dos riscos que suas filhas correriam se seus namorados não contassem com os serviços das meninas.
É na Casa de Dona Anja que seus frequentadores assíduos – o prefeito, o delegado, vereadores e um grande plantador de soja – se reúnem para acompanhar a votação de uma importantíssima alteração na legislação brasileira: a lei que permitiria o divórcio no país. Mas o que prometia ser uma noite tranquila no respeitado prostíbulo sofre uma reviravolta quando acontece um imprevisto que unirá membros de MDB e Arena para salvar tanto a reputação da Casa quanto a do prefeito, e a eles mesmos de que suas esposas descubram que não estavam onde disseram que estariam: a sede de seus respectivos partidos políticos.
Dona Anja, romance do escritor gaúcho Josué Guimarães, é um clássico da literatura brasileira. Tanto que já foi adaptado para a televisão, em uma telenovela exibida entre 1996 e 1997. Com muito humor, que permeia toda a trama, apresenta uma crítica à hipocrisia da sociedade, que prega um moralismo que não pratica.
Referência:
GUIMARÃES, Josué. Dona Anja. 9ed. Porto Alegre: L&PM, 2007. 216p. (Coleção L&PM Pocket)