Brasil, algum momento num futuro talvez não muito distante. Pelo menos na minha leitura. Não há uma indicação temporal no livro, mas, em se tratando do Brasil atualmente, bem pode acontecer a qualquer momento… Já começa que estamos vivendo uma pandemia, contexto que me trouxe uma série de significados completamente diferentes daqueles que surgiriam se eu tivesse lido Corpos secos numa época normal. Li todo o livro em uma tarde e, ao cair da noite, realidade e ficção se confundiam.
Mas vamos à obra. Escrito por Luisa Geisler, Marcelo Ferroni, Natalia Borges Polesso e Samir Machado de Machado, Corpos secos não é baseado no que vivemos agora. Em fala na FLIPOP 2020, Natalia explicou que o processo de escrita começou na metade de 2018, ou seja, bem antes que se tivesse notícia do novo coronavírus.
Na trama, agrotóxicos foram liberados para uso no Brasil, mas sem os devidos testes, e estão causando a Síndrome de Matheson-França, popularmente conhecida como corpo seco. Quem é contaminado, se transforma em zumbi, percorrendo a cidade e atacando aos vivos que encontra pelo caminho.
Mas uma pessoa foi contaminada e não desenvolveu a doença: Mateus. Médicos estão estudando seu caso em busca de uma possível vacina, mas, enquanto isso, a população de corpos secos aumenta de forma acelerada; o governo central cai; o caos toma conta do país e apenas algumas ilhas são seguras. Assim, a narrativa acompanhará o trajeto de alguns sobreviventes e do grupo de médicos, policiais federais e membros do Exército responsáveis pela segurança de Mateus na tentativa se salvar.
Durante a leitura, fiz várias marcações no livro. Algumas são coisas que eu sempre falo, como quando Constância e Carmem relacionam a humanidade a uma praga e a uma peste, respectivamente. Outras são sacadas irônicas ou engraçadas que, a meu ver, se encaixam perfeitamente à realidade. Essa foi a melhor leitura que fiz em 2021, e estou achando difícil encontrar uma que possa superá-la.
Referência: GEISLER, Luisa et al. Corpos secos: um romance. 1ed. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2020.