A frase acima pode ser traduzida como “um deboche à prepotência de Pinochet”, e resume perfeitamente a história que se conta no livro sobre o qual falo hoje. Ela é de Miguel Littín, cineasta chileno que foi exilado durante a ditadura militar comandada por Augusto Pinochet, mas retornou ao Chile de forma clandestina no início de 1985 para gravar um documentário que visava retratar a realidade chilena depois de 12 anos de ditadura. O resultado foi um filme de quatro horas para a televisão – “Acta general de Chile”, que está disponível online –, e outro de duas horas para o cinema.

O livro La aventura de Miguel Littín clandestino en Chile foi escrito por Gabriel García Márquez após um encontro com o cineasta em Madrid. Na ocasião, Littín contou ao escritor um pouco sobre essa experiência; depois, deu um depoimento completo, o que rendeu 18 horas de gravação e serviu de base para o livro.

Na Introdução, García Márquez explica que decidiu escrever esta obra porque pensou que, “por trás do seu filme, havia outro filme sem fazer que corria o risco de ficar inédito” [tradução minha]. Ainda bem que ele o fez, e assim pudemos ter acesso aos detalhes dessa operação que reuniu diversas equipes de filmagem – chilenas e internacionais – e contou com a ajuda da resistência à ditadura.

Narrada em primeira pessoa, a obra traz, além de acontecimentos de quando Littín esteve gravando o documentário no Chile, relatos sobre sua (difícil) preparação para voltar clandestinamente ao país – o que incluiu até uma esposa falsa; sobre o período entre o início da ditadura e o exílio do cineasta; e sobre outros eventos da época ditatorial, com algumas modificações de nomes e situações, segundo García Márquez diz na Introdução, para proteger pessoas.

 

Referência:

GARCÍA MÁRQUEZ, Gabriel. La aventura de Miguel Littín clandestino en Chile. Montevideo: Sudamericana, 2015. 192p.