A varíola é uma doença que assola a humanidade há milhares de anos. Seu aparecimento se perde nas brumas do Tempo, e sua origem é desconhecida. As primeiras evidências desta enfermidade foram encontradas em múmias egípcias datadas do século III a.C. e, ao longo da História, houve surtos devastadores. No século XVIII, morriam de varíola na Europa cerca de 400 mil pessoas por ano e um terço dos casos resultava em cegueira. Estima-se que, ao longo do século XX, a varíola tenha causado entre 300 e 500 milhões de mortes. Em 1967, ocorriam ainda 15 milhões de casos por ano.
Há dois tipos de varíola, a maior e a menor ou alastrim, com os mesmos sintomas, mas muito mais leve. A enfermidade tem sintomas iniciais que são semelhantes aos da gripe, com febre, mal-estar, surgindo depois dores musculares, gástricas e vômitos violentos. Após infecção respiratória, o vírus multiplica-se, contaminando primeiro os órgãos linfáticos e, depois, a pele, onde surgem as pústulas típicas, primeiro na boca, depois nos membros e, em seguida, generalizadas. Estas feridas foram chamadas de bexigas.
No Brasil, os primeiros registros da doença datam do início do século XVI, trazida pelos primeiros exploradores europeus que desembarcaram nas costas brasileiras. Nesta época a enfermidade rapidamente se espalhou pelas comunidades indígenas, dizimando-as.
A varíola é transmitida pelo contato físico ou com roupas e utensílios pessoais. A limpeza das vestimentas e o distanciamento físico das pessoas são fundamentais para seu controle. Por estes motivos – europeus tinham restrições a banho e possuíam um asseamento pautado na moralidade – a doença tomou proporções de pandemia, assustando aos brasileiros dos séculos XVII, XVIII e XIX, pois quem a contraía tinha 30% de chance de morrer.
Em 1804, a Coroa Portuguesa resolveu trazer para a Colônia do Brasil uma nova tecnologia médica: a vacinação. A ideia tinha sido desenvolvida pelo médico britânico Edward Jenner (1749-1823), em 1796. Ele descobriu que os bovinos possuíam um tipo de varíola, e que os trabalhadores rurais que tinham contato físico com o gado possuíam resistência à doença, desenvolvendo uma forma leve. Foi quando ele teve a ideia de inocular o líquido das bexigas – o pus – dos que desenvolviam a forma branda da doença, em pessoas saudáveis. Este foi o nascimento das vacinas.
Mas vacinar toda uma população era um problema quase insolúvel. Havia problemas de cultura, logística, armazenamento e distribuição, além da forma de aplicá-la, pois a inoculação do material era feito em um talho aberto no braço do paciente e, nele, colocado o pus contaminado extraído dos enfermos.
Para distribuir as vacinas e manter a vacinação, foi criado um método chamado de “braço em braço”. As pessoas que se vacinavam deveriam retornar após uma semana para que os vacinadores retirassem parte da secreção da pústula gerada no local da aplicação. Esse material era utilizado para produzir mais vacinas para outros indivíduos, e assim por diante.
Em 1804, foram mandados para o Brasil escravos contaminados com a forma branda da varíola para que se pudesse iniciar a vacinação da população. Foi deles que foi extraído o “puz vaccinico” que deu início as Campanhas de Vacinação nas terras brasilis.
Em Caçapava, não foi diferente. Na próxima semana, transcreveremos uma carta enviada a Câmara de Vereadores, documento de 04 de junho de 1849, que trata da extração do “puz vaccinico” e da vacinação na nossa cidade.