Velhos álbuns

Terminou a era da máquina fotográfica. Agora o celular está cheio de flagrantes que desejo imprimir para tê-los em postais que não se percam nas “nuvens”

Na costumeira faxina de primavera, cheguei à sala de minha casa. Ali, o armário de livros promete muitas horas de cuidados. Resistindo à tentação de abrir alguns deles, chego às duas últimas prateleiras onde guardo os álbuns de fotos que contêm importantes momentos de minha vida e da família.

Gosto de empilhá-los em ordem cronológica ou por grupos de familiares festejando datas importantes. Começo pela geração de meus pais, do seu casamento em 1925, com a foto dos noivos bem conservada, a noiva com seu buquê de jasminzinhos que se tornaram o símbolo de seu amor e do “felizes até que a morte os separe.”

Vejo com saudade as fotos dos irmãos, pais e amigos do casal. Suas comemorações de Bodas de Prata, de Ouro e de Diamante. E ao redor, os filhos e netos, nos últimos também os bisnetos.

Detenho-me admirando-os com os filhos pequenos. Ah, delícia, eu no colo de minha mãe, ladeada pelas manas Duty e Doty; mais tarde aparecem os manos mais moços, Geraldo e Regina, a família completa.

Os filhos e netos de meus irmãos não cabem num só álbum. Ainda mais que eu, a tia coruja, costumava fotografá-los a cada encontro ou festividade. Depois meus filhos ficaram incluídos em doces imagens que me aquecem a alma.

Os álbuns chegaram até os primeiros anos de meu primeiro neto. Admirando essas imagens, que saudade me dá!

Terminou a era da máquina fotográfica. Agora o celular está cheio de flagrantes que desejo imprimir para tê-los em postais que não se percam nas “nuvens”.

Vejo, então, aquele menininho de cara suja, enxotado do portão de onde queria arrancar uma flor, quais serão suas lembranças? Nascido ao Deus dará, sem conhecer seu pai e talvez até sua mãe que o entregou ao nascer, sem ao menos desejar conhecê-lo, que dor! Como será sua vida? Sem teto, marginal, bandido? Como aqueles adolescentes que matam para provar que a vida não tem valor. Só o poder de amedrontar, roubar, destruir laços familiares, sonhos e esperanças?

Que os pais adotivos, que têm muito amor a oferecer, acolham essas crianças para que se criem felizes e voltadas para o bem. No doce aconchego de um lar.