Velhos retratos

As gerações se sucediam naquelas imagens, e os novos membros já não sabiam identificar os personagens das velhas fotografias. Onde foram parar essas fotos?

Lembro-me de uma casa que não existe mais. Agora é um belo sobrado, com todos os confortos modernos. Antes, ao subir as escadas, a gente ia olhando a sucessão de retratos desbotados, de pessoas de todas as idades, ora velhos sisudos de longas barbas, ou mulheres de cintura fina graças aos desconfortáveis espartilhos, ora crianças de chupeta na boca, de primeira comunhão, jovens noivos, e, assim, a história da família ia sendo desvendada.

As gerações se sucediam naquelas imagens, e os novos membros já não sabiam identificar os personagens das velhas fotografias.

Onde foram parar essas fotos? As novas moradas não têm mais sótãos ou porões para guardá-las. Devem ter ido para o lixo.

A vida terrena tem seus limites no tempo. É preciso renovar as mentalidades, os velhos têm a obrigação de dar lugar aos mais jovens. Os costumes são outros, e eles não deixariam de reclamar: “No meu tempo não era assim”.

Na minha atual morada – a casa dos meus sonhos – tenho hoje a satisfação de exibir, desde a sala, as figuras de meus pais, avós e tios amados. Nossos laços de afeto ainda existem, nas lembranças, na gratidão que lhes devo, na minha saudade. Todos os dias, diante desses quadros, eu lhes peço que nos abençoem e que estejam felizes na glória do Pai.

O Dia de Finados deste ano trouxe muitas mudanças na vida da gente. Desde o clima tão imprevisível desta Primavera, pois o vento característico desta data ainda não soprou seu ar quente, desfolhando as flores de nossas homenagens. Mas o que não mudou foi a reverência aos nossos falecidos, a satisfação do reencontro de amigos que vêm aos velhos pagos e ainda se lembram de um passado compartilhado.

Usando os celulares – esses companheiros que sempre nos acompanham – mostramos, orgulhosos, fotos de nossos filhos, netos ou bisnetos que eles não conhecem ainda. E saímos do cemitério renovados de esperança em nossos descendentes, acreditando que o amor ainda existe nesse mundo conturbado, cheio de guerra e traições. E o amor que nossos pais nos dedicaram será a melhor herança que deixaremos às novas gerações, para que os povos compreendam que fomos criados por um Pai misericordioso, que deseja o nosso Bem, e que sejamos irmãos e nos ajudemos uns aos outros nas estradas da vida.