Venturas e desventuras de uma dona de casa

Mas parentes da nora, que moram na Austrália, chegaram de surpresa para festejar os eventos do final do ano com a família. E, de uma hora para outra, dona Idalina teve que preparar a casa, a ceia de Natal, os quitutes para o primeiro do ano, e foi quando tudo ficou atrapalhado

O Natal passou. Logo vieram as festas de fim de ano. Famílias passaram o ano planejando o local do encontro para esses eventos que marcaram a história de suas vidas. Seria no seu primeiro lar, junto às lembranças da infância, dos pais, dos avós, dos tios e de seus primos, companheiros de folguedos?! Porém, muita água passou sob a ponte desde então, e novos casamentos, nascimentos, separações e mortes aconteceram.

Dona Idalina estava convidada para o Natal na casa de um filho, e lá estariam os outros, da mesma cidade. Não precisava preparar nada. Era só esperar que a viessem buscar.

Mas parentes da nora, que moram na Austrália, chegaram de surpresa para festejar os eventos do final do ano com a família. E, de uma hora para outra, dona Idalina teve que preparar a casa, a ceia de Natal, os quitutes para o primeiro do ano, e foi quando tudo ficou atrapalhado.

A faxineira se aposentou, o jardineiro que cortava a grama e limpava o jardim de ervas daminhas entrou em licença saúde, a confeiteira para as tortas, frios e docinhos entrou em férias, e até o cabeleireiro foi viajar. Dona Idalina entrou em pânico.

Além dessas festividades, houve uma série de formaturas e aniversários de sobrinhos queridos, a quem não podia negar sua presença nas festas e fotos. E o cabelo? Corte, pintura, faltava tudo. E o cabeleireiro amigo, que sempre a atendia com presteza, deu-se de presente alguns dias de folga, aliás, bem merecidas.

E para culminar, até o médico que lhe dava a receita do remédio restaurador de seu equilíbrio emocional ausentou-se para festejar com a família essas datas consagradas. Sem o medicamento, Dona Idalina chorou diante da TV, com as reportagens de tragédias no ar, nas rodovias e nas vias fluviais, acontecidas com pessoas que pretendiam passar essas datas com as famílias. Rezou pelas vítimas e seus familiares, e agradeceu a Deus pela vida dos seus, que estavam vivos e felizes.

Assim se livrou da autopiedade. Mas quando assistiu ao sucesso de Fernanda Torres pelo Globo de Ouro recebido em Los Angeles, pelo filme premiado “Ainda estou aqui”, não conteve as lágrimas. E louvou os artistas que interpretam com tanta autenticidade os fatos da vida e nos dão lições de bem viver.

Foi então que aconteceu o milagre: Ana – sua acompanhante das noites nos fins de semana — apareceu com pá, enxada e máquina de cortar grama, e de uma hora para outra, gramado e canteiros ficaram limpos, realçando as flores e as cores.

Ajudada por Lígia, ela fez a faxina da casa. Dona Idalina, então, se dedicou a aprimorar seus quitutes, sempre apreciados por filhos, noras e netos. Ela era só sorrisos ao contemplar seus familiares pedindo repetição de seus doces e salgados.